Há 97 anos...acontecia a Revolta da Chibata
Os castigos físicos - prisão a ferro na solitária e o mínimo de vinte e cinco chibatadas - atribuidos aos marinheiros nacionais, quase todos negros ou mulatos comandados por uma oficialidade branca, foram as causas da revolta. A consciência veio do contato com as marinhas de países mais desenvolvidos à época - particularmente vivido com a estada dos marujos na Inglaterra em 1909 - onde não mais adotavam esse tipo de punição e o fato dos castigos físicos serem semelhantes aos maus-tratos da escravidão, abolida no país desde 1888.
Quando retornaram ao Brasil, o marinheiro e integralista João Cândido, formou clandestinamente um Comitê Geral para organizar a revolta. O estopim da revolta acabou sendo a punição aplicada ao marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes do Encouraçado Minas Gerais, em trânsito para o Rio de Janeiro. Uma punicão de duzentos e cinqüenta chibatadas.
Assim, os marinheiros do Minas Gerais se amotinaram, mataram quatro oficiais (entre os quais o comandante, Batista das Neves), e obteveram a adesão do Encouraçado São Paulo (o segundo maior navio da Armada à época) e de mais seis embarcações menores ancoradas na baía. Foi então emitido um ultimato no qual ameaçavam abrir fogo sobre a então Capital Federal:
“O governo tem que acabar com os castigos corporais, melhorar nossa comida e dar anistia a todos os revoltosos. Senão, a gente bombardeia a cidade, dentro de 12 horas.” (carta de João Cândido, líder da revolta)
Quatro dias depois, o governo do presidente marechal Hermes da Fonseca declarou aceitar as reivindicações dos amotinados, abolindo os castigos físicos e anistiando os revoltosos que se entregassem. Depostas as armas e entregue as embarcações, marinheiros foram presos e muitos expulsos da corporação.
Em resposta, os fuzileiros navais sublevaram-se na ilha das Cobras no dia 9, sendo bombardeados durante todo o dia, mesmo após hastearem a bandeira branca. De seiscentos revoltosos, sobreviveram pouco mais de uma centena, detidos nos calabouços da antiga Fortaleza de São José da Ilha das Cobras. Entre esses detidos, dezoito foram recolhidos à cela n° 5, escavada na rocha. Ali foi atirada cal virgem, na véspera do Natal. Após vinte e quatro horas, apenas João Cândido e o soldado naval Pau de Lira sobreviveram. Cento e cinco marinheiros foram desterrados para trabalhos forçados nos seringais da Amazônia, tendo sete destes sido fuzilados nesse trânsito.
Apesar de se declarar contra a manifestação, João Cândido também foi expulso da Marinha, sob a acusação de ter favorecido os rebeldes. O Almirante Negro, como foi chamado pela imprensa, um dos sobreviventes à detenção na ilha das Cobras, foi internado no Hospital dos Alienados em Abril de 1911, como louco e indigente. Ele e dez companheiros só seriam julgados e absolvidos das acusações dois anos mais tarde, em 1 de dezembro de 1912. João Cândido morreu aos 89 anos, no Rio de Janeiro, sendo considerado um herói popular.
enviada por Gustavo Petta
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
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